O Bacanal na USP

Segue a ocupação, dita por tempo indeterminado, do prédio da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) por estudantes em protesto à presença de guarnições da Polícia Militar (PM), intensificadas após acordo envolvendo o Conselho Gestor da USP e a PM, com fins de aumentar a segurança no campus. O tumulto deu lugar na Quinta-feira quando, durante uma ronda, policiais flagraram três estudantes portando "porções de maconha cada". Os mesmos foram autuados e seriam conduzidos para uma Delegacia de Polícia (DP), a 91ª. O grupo foi cercado por estudantes e teve início a discussões que evoluíram para agressões mútuas, com veículos danificados e policiais e manifestantes feridos. O número de estudantes envolvidos varia de 200 a 500, conforme a fonte. A PM chegou a encaminhar 15 viaturas ao local, com direito a todos as armas e tecnologias utilizadas para restringir manifestações públicas. Dos acontecimentos, duas situações merecem destaque e debate. Primeira, a descriminalização do porte de maconha e, segunda, os motivos e razões da manifestação dos estudantes ter continuado ativa. Como é do conhecimento geral, tão amplamente divulgado que foi, o porte da maconha (da herbácea Cannabis Sativa) não é mais passível de detenção, nos casos em que se trata de consumo próprio, não venda e tráfico, fato festejado como uma vitória pelos defensores da legalização das drogas. O porém da situação em si foi a legislação que a tratou, pois não foi especificado de forma clara e conceitual qual a quantidade do produto a levar para ser considerada uso individual. Assim sendo, cabe ao agente da lei decidir, no momento da detenção, se a quantidade apreendida será qualificada como tráfico de entorpecentes ou não. Ou seja, o circo brasileiro está novamente armado para a confusão. Alguns com quantidades elevadas do produto ilícito são liberados ao passo que outros, com quantidades significativamente menores, são apreendidos. Dependendo do humor dos representantes da lei no momento do flagrante. Parece que nada, nada mesmo, consegue ser realizado com ordem e inteligência neste país. Não foram divulgadas a quantidade de maconha flagrada com os estudantes da USP, mas, dependendo disso, poderiam ser facilmente liberados, até mesmo porque o propósito das rondas policiais no campus é impedir a violência reinante contra os estudantes por criminosos "de fora" da vida universitária, e não o contrário. Vale ressaltar, todavia, que os limites do campus de universidades não estão descobertos das leis, e essas ali também se fazem presentes. Os estudantes que tomaram o campus protestam contra a polícia de um modo geral, não exatamente contra o fato ocorrido analisado de forma isolada, mas contra a instituição como um todo, e seu poder coercitivo contra a sociedade. Aqui reside um grande engano. A mesma polícia que dispersa uma passeata ou protesto, é a que liberta o cidadão das garras de um crime e preserva a ordem, ainda que mínima, da vida em sociedade. Ao sugerir que a polícia saia dos "morros ocupados", estarão os estudantes afirmando que passarão os próprios a garantir a segurança dos moradores? Os desvios ocorridos dentro de instituições como as diversas polícias devem ser combatidos, como a corrupção, que retira traficantes de morros para instalar as milícias, duas faces da mesma moeda Brasil, porém não se deve apregoar o fim delas. Seríamos então o que, uma nova Somália? Caso o resultado da pancadaria entre policiais militares contra estudantes da USP, em maior número mas com recursos mais limitados, fossem o debate profundo acerca das questões envolvendo a legalidade do porte e da detenção e uma nova consciência global sobre o papel a desempenhar por cada indivíduo dentro do seu âmbito de atuação e responsabilização perante à sociedade, teríamos um novo patamar nas decisões nacionais acerca do bem comum e das prioridades de cada segmento. Mas não, isso não ocorreu. O que se viu foram os mesmos velhos e vazios bordões marxistas de opressão estatal, falta de liberdade popular e cerceamento de uma suposta liberdade de expressão e circulação. Estudantes, por serem estudantes, mormente se forem de unidades públicas e bolsistas oriundos das camadas mais empobrecidas da sociedade capitalista, veêm-se como seres realmente acima das meras convenções sociais. Ainda se encaram como novos "caras pintadas" que vão mudar o mundo ao invadirem prédios públicos e gritarem a plenos pulmões à morte do capitalismo selvagem, do qual usufruem sem parcimônia, e à legalização da maconha e de todas as drogas e de tudo, afinal. Confundem sociedade livre com sociedade libertina. Resta saber se essas idéias pseudo-socialistas encontrarão algum eco no restante da sociedade.

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